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quarta-feira, 17 de março de 2010

Poesia em Sala de Aula


l. Leia (ou recite) poemas para a turma
leitores que leem com pouca fluência dependem da leitura em voz alta do professor para descobrir os poemas que estão dentro deles. Brinde os estudantes com a leitura de poemas e eles aprenderão a apreciá-los com você.
Mas lembre-se do que diz Rubem Alves,trata-se de uma arte. Como um autor ensaia para emprestar seu corpo, sua voz aos personagens, assim também nós, professores, devemos preparar cuidadosamente a leitura em voz alta.Ao escutar a nossa própria voz, é como se ouvíssemos outras vozes,que sugerem possibilidades: um toque diferente para essa passagem,maior velocidade para aquela outra,ênfase em certa palavra etc.
2. Ensine a turma a ler em voz alta
Além de ler poemas,é importante que nos empenhamos em ensiná-los a ler poemas em voz alta.Comece propondo uma leitura simples,em que as pausas sejam orientadas pelo sentido e pela sintaxe.Por exemplo,há um trecho no poema ``Belo belo`` no qual o poeta diz que quer quatro coisas: a solidão, a água, a rosa, a luz que,exigente, ele se encarrega de especificar. Uma leitura que desse igual peso a todos os versos acabaria não sugerindo que sobre a escarpa inacessível é o lugar onde floresceu a rosa que ele quer; nem que piscando no lusco-fusco especifica o momento em que deseja a luz da primeira estrela.Uma boa leitura estabeleceria essas duas conexões.
Aos poucos estimule-os a realizarem leituras mais expressivas que levem em conta, além dos aspectos já citados,os versos,as rimas e outros recursos estilísticos empregados pelo poeta.Por exemplo,os versos ``Belo belo`` e ``Quero quero`` funcionam como uma espécie de refrão que isola segmentos temáticos que podem ser valorizados na leitura.Vejamos uns trechos:
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
3. Ensine a ver poemas visuais
Há poemas em que o poético não se evidencia pelo encadeamento linear dos versos, mas pelo jogo com a linguagem que se concretiza na justaposição de palavras na página, na materialidade das próprias palavras que se fragmentaram e se recompõem.O verso tradicional dá lugar a uma linguagem sintética,dinâmica e o poema transforma-se em objeto visual que pede,simultaneamente,para ser lido e visto.Vejamos o poema de José Paulo Paes.

Elegia holandesa
águamolepedradura águaáolepedradura águaáglepedradura águaáguepedradura águaáguapedradura águaáguaáedradura águaáguaágdradura águaáguaáguradura águaáguaáguaadura águaáguaáguaádura águaáguaáguaágura águaáguaáguaágura águaáguaáguaáguaa águaáguaáguaáguaá
(disponível em
http://www.revista.agulha.nom.br/jpaulo.html)
José Paulo Paes, já no primeiro verso,introduz duas modificações à primeira parte do provérbio:corta a preposição ``em`` e elimina a segmentação entre as palavras: águamolepedradura.Mas, a partir do segundo verso,provoca uma verdadeira erosão no provérbio: a cada verso,as palavras - mole,pedra e dura - perdem letras para dar lugar às letras que fazem parte da palavra ``água``.
Sinteticamente e de maneira figurada,os provérbios expressam crenças e valores de um determinado grupo social.O poeta,mais sinteticamente ainda,mostra como a `´água`´´pode se infiltrar e dissolver a dureza das pedras,isto é, a água tanto bate até que fura.Que sacada,não?
Ao extrair letras das palavras,ao sugerir no título a longa luta do povo holabdês contra o avanço das águas,o poema provoca um deslocamento de sentido e faz com que o leitor abandone o sentido figurado,mas automatizado do provérbio,para retomar o sentido primeiro das palavras ``água`` e `´pedra``.E é assim que um lugar-comum se transforma em um poema incomum.
Texto baseado na matéria da Revista LeituraS
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