l. Leia (ou recite) poemas para a turma
leitores que leem com pouca fluência dependem da leitura em voz alta do professor para descobrir os poemas que estão dentro deles. Brinde os estudantes com a leitura de poemas e eles aprenderão a apreciá-los com você.
Mas lembre-se do que diz Rubem Alves,trata-se de uma arte. Como um autor ensaia para emprestar seu corpo, sua voz aos personagens, assim também nós, professores, devemos preparar cuidadosamente a leitura em voz alta.Ao escutar a nossa própria voz, é como se ouvíssemos outras vozes,que sugerem possibilidades: um toque diferente para essa passagem,maior velocidade para aquela outra,ênfase em certa palavra etc.
2. Ensine a turma a ler em voz alta
Além de ler poemas,é importante que nos empenhamos em ensiná-los a ler poemas em voz alta.Comece propondo uma leitura simples,em que as pausas sejam orientadas pelo sentido e pela sintaxe.Por exemplo,há um trecho no poema ``Belo belo`` no qual o poeta diz que quer quatro coisas: a solidão, a água, a rosa, a luz que,exigente, ele se encarrega de especificar. Uma leitura que desse igual peso a todos os versos acabaria não sugerindo que sobre a escarpa inacessível é o lugar onde floresceu a rosa que ele quer; nem que piscando no lusco-fusco especifica o momento em que deseja a luz da primeira estrela.Uma boa leitura estabeleceria essas duas conexões.
Aos poucos estimule-os a realizarem leituras mais expressivas que levem em conta, além dos aspectos já citados,os versos,as rimas e outros recursos estilísticos empregados pelo poeta.Por exemplo,os versos ``Belo belo`` e ``Quero quero`` funcionam como uma espécie de refrão que isola segmentos temáticos que podem ser valorizados na leitura.Vejamos uns trechos:
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
3. Ensine a ver poemas visuais
Há poemas em que o poético não se evidencia pelo encadeamento linear dos versos, mas pelo jogo com a linguagem que se concretiza na justaposição de palavras na página, na materialidade das próprias palavras que se fragmentaram e se recompõem.O verso tradicional dá lugar a uma linguagem sintética,dinâmica e o poema transforma-se em objeto visual que pede,simultaneamente,para ser lido e visto.Vejamos o poema de José Paulo Paes.
Elegia holandesa
águamolepedradura águaáolepedradura águaáglepedradura águaáguepedradura águaáguapedradura águaáguaáedradura águaáguaágdradura águaáguaáguradura águaáguaáguaadura águaáguaáguaádura águaáguaáguaágura águaáguaáguaágura águaáguaáguaáguaa águaáguaáguaáguaá
(disponível em http://www.revista.agulha.nom.br/jpaulo.html)
José Paulo Paes, já no primeiro verso,introduz duas modificações à primeira parte do provérbio:corta a preposição ``em`` e elimina a segmentação entre as palavras: águamolepedradura.Mas, a partir do segundo verso,provoca uma verdadeira erosão no provérbio: a cada verso,as palavras - mole,pedra e dura - perdem letras para dar lugar às letras que fazem parte da palavra ``água``.
Sinteticamente e de maneira figurada,os provérbios expressam crenças e valores de um determinado grupo social.O poeta,mais sinteticamente ainda,mostra como a `´água`´´pode se infiltrar e dissolver a dureza das pedras,isto é, a água tanto bate até que fura.Que sacada,não?
Ao extrair letras das palavras,ao sugerir no título a longa luta do povo holabdês contra o avanço das águas,o poema provoca um deslocamento de sentido e faz com que o leitor abandone o sentido figurado,mas automatizado do provérbio,para retomar o sentido primeiro das palavras ``água`` e `´pedra``.E é assim que um lugar-comum se transforma em um poema incomum.
Texto baseado na matéria da Revista LeituraS.
leitores que leem com pouca fluência dependem da leitura em voz alta do professor para descobrir os poemas que estão dentro deles. Brinde os estudantes com a leitura de poemas e eles aprenderão a apreciá-los com você.
Mas lembre-se do que diz Rubem Alves,trata-se de uma arte. Como um autor ensaia para emprestar seu corpo, sua voz aos personagens, assim também nós, professores, devemos preparar cuidadosamente a leitura em voz alta.Ao escutar a nossa própria voz, é como se ouvíssemos outras vozes,que sugerem possibilidades: um toque diferente para essa passagem,maior velocidade para aquela outra,ênfase em certa palavra etc.
2. Ensine a turma a ler em voz alta
Além de ler poemas,é importante que nos empenhamos em ensiná-los a ler poemas em voz alta.Comece propondo uma leitura simples,em que as pausas sejam orientadas pelo sentido e pela sintaxe.Por exemplo,há um trecho no poema ``Belo belo`` no qual o poeta diz que quer quatro coisas: a solidão, a água, a rosa, a luz que,exigente, ele se encarrega de especificar. Uma leitura que desse igual peso a todos os versos acabaria não sugerindo que sobre a escarpa inacessível é o lugar onde floresceu a rosa que ele quer; nem que piscando no lusco-fusco especifica o momento em que deseja a luz da primeira estrela.Uma boa leitura estabeleceria essas duas conexões.
Aos poucos estimule-os a realizarem leituras mais expressivas que levem em conta, além dos aspectos já citados,os versos,as rimas e outros recursos estilísticos empregados pelo poeta.Por exemplo,os versos ``Belo belo`` e ``Quero quero`` funcionam como uma espécie de refrão que isola segmentos temáticos que podem ser valorizados na leitura.Vejamos uns trechos:
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
3. Ensine a ver poemas visuais
Há poemas em que o poético não se evidencia pelo encadeamento linear dos versos, mas pelo jogo com a linguagem que se concretiza na justaposição de palavras na página, na materialidade das próprias palavras que se fragmentaram e se recompõem.O verso tradicional dá lugar a uma linguagem sintética,dinâmica e o poema transforma-se em objeto visual que pede,simultaneamente,para ser lido e visto.Vejamos o poema de José Paulo Paes.
Elegia holandesa
águamolepedradura águaáolepedradura águaáglepedradura águaáguepedradura águaáguapedradura águaáguaáedradura águaáguaágdradura águaáguaáguradura águaáguaáguaadura águaáguaáguaádura águaáguaáguaágura águaáguaáguaágura águaáguaáguaáguaa águaáguaáguaáguaá
(disponível em http://www.revista.agulha.nom.br/jpaulo.html)
José Paulo Paes, já no primeiro verso,introduz duas modificações à primeira parte do provérbio:corta a preposição ``em`` e elimina a segmentação entre as palavras: águamolepedradura.Mas, a partir do segundo verso,provoca uma verdadeira erosão no provérbio: a cada verso,as palavras - mole,pedra e dura - perdem letras para dar lugar às letras que fazem parte da palavra ``água``.
Sinteticamente e de maneira figurada,os provérbios expressam crenças e valores de um determinado grupo social.O poeta,mais sinteticamente ainda,mostra como a `´água`´´pode se infiltrar e dissolver a dureza das pedras,isto é, a água tanto bate até que fura.Que sacada,não?
Ao extrair letras das palavras,ao sugerir no título a longa luta do povo holabdês contra o avanço das águas,o poema provoca um deslocamento de sentido e faz com que o leitor abandone o sentido figurado,mas automatizado do provérbio,para retomar o sentido primeiro das palavras ``água`` e `´pedra``.E é assim que um lugar-comum se transforma em um poema incomum.
Texto baseado na matéria da Revista LeituraS.